h2>Dating : Epifania I
Planc. A porta se fecha. Ângela suspira aliviada.
— O jantar foi legal né?
— Você achou?
— Você não achou?
As fotos e decorações da sala encaram Gabriel, enquanto ele se senta no sofá.
— Parece que eles nunca estão felizes com nada.
— Como assim? A sua mãe pareceu bem feliz que o colesterol dela abaixou.
— Exatamente! A vida inteira eu ouvi deles que precisava fazer tudo perfeito para ter uma vida boa. Primeiro, só tirar notas boas na escola. Depois, “não podia perder” o emprego que meu pai arrumou na firma.
— …péssimos pais?
— Por que tinha que ser tudo exatamente como eles queriam? Eu achava que um dia ia estar bom. Tipo “Parabéns, filho!”. Sei lá… “Seja livre!”?
Gabriel indaga sua esposa, como se no fundo soubesse que há algo de errado em suas expectativas. Já a pia cheia de louça não deixa espaço pra dúvidas: ela não vai se lavar sozinha, então o casal coloca a mão na massa.
— Mas não. Eles acham problema na casa nova, querem que eu me preocupe com filhos imaginários…
— Primeiro: olha como você fala dos nossos filhos imaginários. Segundo, você já pensou que eles fazem isso pro seu bem? Pra você não passar pelos problemas que eles passaram?
— Sim, eu sei, mas… de que adianta boa intenção? Todo mundo adorava os bolos que eu fazia quando era pequeno. Eu podia ser muito feliz hoje como jurado do MasterChef. Mas não, tô lá dando nota pro café do escritório.
— Escritório esse que ajudou a pagar pela nossa casa. E Gabriel, não é meio clichê colocar a culpa nos pais?
— Mas eram eles que tavam lá falando na minha cabeça todo dia…
— Pois é, mas você também tava lá! Agora é fácil falar de barriga cheia.
De fato, Gabriel se empolgou um pouco com a salada de batatas.
— Você tava lá, perdidaço, precisando tomar decisões na vida. Precisando de ajuda e eles fizeram o que puderam.
— É… eu me sentia que nem aquele cachorro carregando a própria coleira, sabe?
— Igual todo mundo! Mas chega uma hora que você não precisa mais da coleira. Esse é o segredo.
— Mas o que eu ia fazer? Largar o emprego?
— A pergunta é: o que você vai fazer agora?
— Depois de terminar a louça?
— Não, Gabriel. Com a sua vida. A gente não pretender ter filhos nem cair da escada tão cedo. Por que você não vai atrás do curso pra jurado do MasterChef?
— Eu te amo!