in

Dating : Mais de um sonho à beira-mar

h2>Dating : Mais de um sonho à beira-mar

Jonaas Ribeiro

Falta 1 dia. Será muito, será pouco? É o tempo que falta para Francisco concretizar o seu jovem sonho de vida. Um dos muitos, claro, mas um dos que mais quer e deseja, aquele que o preenche e agarra, aquele que lhe podia mais facilmente fugir por entre os dedos. Mas não. Francisco agarrou-o como se a vida dependesse disso, com a força de quem consegue puxar um camião com os dentes. Francisco não é assim tão forte, mas a determinação é combustível de sobra para não parar de sonhar.

– Está quase pronto maninha, o nosso bar da praia está quase a ser real!. — diz Francisco, por entre lágrimas de felicidade e suor, enquanto procura o que mais falta fazer.

– Está lindo, cada vez mais lindo! — responde Teresa, a amiga com quem quis partilhar este sonho, a amiga que era tão antiga como a paixão que ambos tinha pelo sonho que iam realizar.

– Nem acredito que estamos juntos nisto! — exalta, enquanto dá um forte abraço à amiga.

Hoje, só falta um dia para servir o primeiro cliente no seu bar, de frente para a praia, de frente para a paz. O conceito é tão simples quanto ele. A inspiração? Viver a dois numa cabana à beira-mar, mas o que movia estes dois era uma amizade profunda. Umas tábuas de madeira, um balcão, mesas, puffs, cadeiras e espreguiçadeiras. Está o cenário montado para ter o típico bar da praia sustentável. Tudo parece fácil de decidir quando vivemos o nosso próprio sonho que tem tanto de céu azul como de estrelas cadentes.

– Obrigado, Teresa! Sem ti não sei se conseguia, mas vamos fazer isto juntos. — diz Francisco, aliviado e cheio de esperança.

– O teu sonho sempre foi meu também. Nunca pensei que estaríamos aqui, mas nunca pensei estar aqui com alguém que não fosses tu. — diz Teresa, emocionada, ao seu grande amigo de coração.

Esta amizade é tão longa como as praias da ilha e nasceu nos muitos verões que passavam juntos. Vizinhos na ilha, mais distantes no continente, nunca deixaram crescer as saudades e cultivaram uma bonita amizade tão “velha” como os próprios.

Falta 1 dia e parece que falta fazer tudo, mas está quase tudo feito. Está na hora de ir dar um mergulho. Teresa vai, pé ante pé, tal como faria na carreira de modelo que deixou para trás, direta para um mergulho. Sem hesitar, filha de peixe sabe nadar.

Enquanto a Teresa vai dar mergulho, para refrescar o corpo e a mente, Francisco tenta arrumar o balcão da forma mais fácil para se orientar. Entre as arrumações, aproveita a vista privilegiada para a praia e olha para o mar como quem quer respirar um pouco. Com os olhos semicerrados, encontra Teresa lá ao fundo a boiar, e sorri tal como um irmão mais velho deve fazer por sentir que a tem protegida, tal como ela sempre o protegeu. Num relance, o olhar desvia para uma rapariga morena, cabelos longos e levemente bronzeada, aquele tom de quem ainda não foi de férias, o bronze possível de se ter em maio. De certa forma encantado, vai arrumando o balcão, com um olho no mar e outro na bancada.

A música está ligada, o corpo balança e Francisco está tão leve como se nada o pudesse preocupar. Faltava apenas saber quem era a sereia que ousou navegar ali, logo hoje, que não se devia distrair.

Ela entra no mar, tímida, e Francisco agora já só troca o olhar entre a rapariga e a Teresa. O interesse mudou. A única coisa que quer é não ser apanhado em flagrante pela sua “maninha”. E é no primeiro mergulho que se suspeita de quem seja. Ela desce, ela sobe. Penteia o cabelo longo para o lado e vai em direção à toalha.

– Não acredito! — pensa envergonhado enquanto se esconde atrás do balcão. — Não pode ser. Será? Estamos em maio, que estranho. E se for? — pensa até ficar perdido no tempo, não dando conta que a Teresa também já voltou.

– Estás bem? O que é que fazes sentado atrás do balcão? — pergunta.

– Ah! Nada. Laranjas. Ficam aqui os laranjas. — responde atrapalhadamente.

– Se me contares sabes que será segredo não sabes? E duvido que sejam as laranjas que te deixam com esse ar de parvo. Deve andar miúda na areia, mas já vais velho para te armares em nadador-salvador de donzelas em perigo de ter creme a mais nas pernas. — e riem-se os dois.

– Lembras-te da Matilde?

– Como não? Não te calas com esse assunto sempre que aqui estamos. Sabes que ela só vem em setembro. Vá, tira antes uma imperial para os dois.

– É a Matilde. Eu vi. É ela. — diz em voz baixinha, como quem sussurra paixões secretas.

– Espera! Vamos começar a conversa que repetimos todos os anos? Aquela em que dizes que é desta e nunca é? — por entre sorrisos cúmplices, Teresa diverte-se com a conversa.

– Não, não é isso… — meio nervoso, Francisco é interrompido por Teresa que continua no seu pequeno discurso.

– Francisco, estamos em maio. Maio! E a Matilde só está na ilha quando? Queres que te lembre? É em setembro. Ainda falta tanto. Até lá, tudo pode acontecer. Contigo, comigo, com o bar. O nosso bar QUE AINDA NÃO DECIDIMOS O NOME não merece essas preocupações de um louco apaixonado. Bebe a imperial e refresca as ideias.

– Calma. Ja te disse que hoje faço o jantar e decidimos o nome. Não passa de hoje.

E não passou. A conversa aconteceu, o nome foi escolhido, só a Matilde é que ficou pendurada nas conversas de todas as noites.

Matilde é a paixão de verão de todos os verões. Tanta paixão para tão pouca iniciativa.

Aos 5 anos, fizeram o primeiro castelo de areia juntos e foi aí que se conheceram. Os pais, só de vista, mas os miúdos passaram a fazer brincadeira infinitas. Eles, a Teresa e outros miúdos que fossem aparecendo. Francisco e Teresa foram criando muitos amigos ao longo das suas férias. Os 3 meses de verão ao lado da avó Clarice davam para conhecer todos as crianças que vinham de férias, de fim-de-semana, ou tal como eles, eram habitantes de verão.Tinham amigos para cada mês, mas setembro era especial.

Nunca foi namoro de crianças, nem adolescentes, mas enquanto cresciam, setembro tinha um gosto especial. Brincavam, falavam, passeavam, quase sempre com a Teresa incluída, mas sempre a trocar sorrisos que prometiam algo mais. Francisco nunca se chegou à frente, mas derretia-se todos os verões, mais depressa que um Calippo ao sol. Os anos passavam e a paixão vivia. Francisco não sabia se do outro lado vinha apenas um carinho genuíno de quem se conhece há tanto tempo e tinha medo de arriscar e perder algo que já era uma amizade bonita. Setembro era sempre um mês bonito, era a salvação de um ano mau e a cereja no topo de um ano bom.

No inicio, Teresa insistia, empurrava, mandava olhares e frases que deixavam sempre o amigo tão corado como quieto, mas este ano era diferente. Ela estava ali em maio e Francisco ia ficar o ano todo. Pelo sorriso não conseguiu perceber até quando ficava, mas se era sexta, de certeza que ia ficar para sábado, o dia de abertura. Hoje, o amor ficava em pause. Era preciso ter tudo pronto para inaugurar o sonho. À velocidade das ondas, dos ventos e dos relógios apressados, o tempo voou, o bar ficou pronto, tudo arranjado, tudo pronto para a abertura.

São 10h da manhã. Teresa e Francisco abraçam-se e desejam boa sorte um ao outro num abraço tão apertado que parecia despedida. Mas não. Era só a força que tinham para que o sonho nunca tivesse fim. E durante o abraço, pelo canto do olho, Francisco viu Matilde a chegar à praia. Os olhos cruzaram-se, sorriram e, sem nenhum parar o seu destino, Francisco encheu-se de confiança e tentou piscar o olho. Infelizmente para todos, piscou os dois e ninguém percebeu o que se passava.

– Entrou-te algum bicho para o olho? — pergunta Teresa.

– Não, não. Vi a Matilde a passar e já sabes, fico sempre meio nervoso.

– Viste quem? É demasiado cedo para alucinações, Francisco.

– Olha ali! Consegues ver a rapariga de toalha azul no ombro? — diz, tentando apontar com os olhos.

– Olha! E não é que tens razão apaixonadito.

– Vês? Eu bem disse que a tinha visto!

– Já te estragou os planos de setembro. E agora, vais ser corajoso em maio? — sempre de sorriso na boca, Teresa faz do tema brincadeira, enquanto Francisco se sente mais tímido e corado.

– Pronto, pronto, Romeu. Vai lá salvar a tua Julieta que eu aguento o barco nos primeiros cafés.

Mas Francisco não foi e ficou com a Teresa no primeiro de muitos cafés juntos.

O bar abriu, encheu, e seguiram-se horas de loucura e muito movimento. Para sorte dos dois amigos, não faltaram imperiais, amendoins, caipirinhas e mojitos, tostas mistas e gelados. As pessoas entravam, gostavam, elogiavam. Parece que tudo corria de vento em poupa. Só faltava a Matilde. Ela não apareceu durante todo o dia e Francisco reparou nisso. Não a viu mais na praia, nem no bar. Por muito importante que fosse aquele dia, Matilde ocupava-lhe muito do coração e teria sido um prazer para ele oferecer-lhe qualquer coisa, algo para dar uns minutos de conversa.

O dia foi frenético e saudavelmente feliz até que os novos donos foram jantar, recuperar forças e voltar para uma pequena festa noturna. O ambiente mudou, ficou mais jovem, mas a música continuou alegremente a tocar, enquanto amigos se juntavam e reencontravam para a primeira noite que parecia verão. Tinham vindo muitos à inauguração deste bar, visto que se conheciam desde pequenos. Entre amigos e conhecidos, o bar encheu de novo, mas com uma pequena diferença. A Matilde estava lá, na mesa do fundo a conversar com uma amiga. Ou irmã. Seria namorada? Francisco não sabia, mas também não queria desanimar. Na verdade, o movimento era tanto que não deu sequer para trocar, mais uma vez, mais que alguns sorrisos. Cúmplices e doces sorrisos.

– Francisco, olha ali a tua querida. Não vais lá? — brincava a Teresa, tentando espicaçar o espírito romântico que Francisco parecia ter esquecido.

– Vou, vou. Quero. Tenho.

– Francisco, respira. Pareces um troglodita. Vai que eu aguento-me, também está tudo de copo cheio agora.

– Não, não. Tenho de te ajudar. Vou daqui a pouco.

– Vais usar essa desculpa amanhã depois de não a veres outra vez?

E assim que Teresa acaba a frase, olharam os dois e a Matilde já não estava lá. Mais uma oportunidade desperdiçada. Onde teria ido?

– És tão totó. Passas o dia a sonhar alto e sempre que ela chega, apagas-te. — Teresa ria e abraçou o amigo — Amanhã há mais, miúdo. Cafés e Matildes.

Tal como o dia, a noite voou e ficaram só os dois amigos a arrumar o “sonho” que tinha começado. O dia correu tão bem como a noite, era o melhor primeiro passo que podia ter dado. Ainda assim, Francisco sentia que nem tudo foi perfeito.

– Vai andando para casa, Teresa. Já falta pouco, deixa comigo.

Teresa aceitou a ajuda e foi embora. Francisco aproveitou os últimos momentos da noite para pensar. O que podia fazer diferente? Sentia-se sempre cheio de coragem depois de todos os momentos falhados. Tinha imaginado todos os beijos que poderiam ter sido os primeiros, todos os momentos em que podia ter dito o que sentia. Todos os meses eram demasiado longos enquanto não chegava setembro. Tanta ansiedade, tantos sonhos. Mais uma vez, tinha ficado com os pés na terra, tal como os barcos ficam quando o mar se revolta. E também ele está pacificamente revoltado consigo. Setembro fica tão longe outra vez.

– A última bebida da noite pode ser minha?

Era Matilde. A última cliente da noite, mas a mais esperada de todos. Francisco ficou a sorrir sem resposta, como se tivesse esperado todos os dias por isto.

– Não te quero dar trabalho, pode ser só uma imperial. — atira Matilde, enquanto deixa um sorriso escapar.

– Tenho muito mais que isso para ti.

E sem perder mais tempo, deu-lhe um beijo. Longo. Um beijo que guardava uma paixão de anos. Um beijo demorado que acabou num sorriso partilhado a dois. Abriram os olhos e viu-se amor, cumplicidade, harmonia. Francisco deu uns passos atrás e foi servir a última bebida da noite.

– Demoraste muito tempo.
— Com a imperial?

– Não, a beijar-me. Pensei que setembro estava amaldiçoado. Se soubesse tinha vindo um maio mais cedo. — Matilde acaba a frase e beija-o. Afinal, nenhum dos dois queria perder mais um verão à espera.

Read also  Dating : Meet Me friends Vs. California Friends

What do you think?

22 Points
Upvote Downvote

Laisser un commentaire

Votre adresse e-mail ne sera pas publiée. Les champs obligatoires sont indiqués avec *

Dating : How To (Really) Ask For What You Need in Your Relationship

Dating : (Lankan) Shady — How authentic, how illustrative and metaphoric.