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Dating : Você estaria pronto para ser a rocha de quem sempre foi a sua?

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Clarissa Manske

Um questionamento que jamais me fiz até encontrar-me na necessidade de ser.

Uma rocha, significada e ilustrada por mim.

Meu pai, uma perfeita definição de um ser humano rocha. Sempre racional, impassível, capaz de lidar com as mais difíceis situações sem qualquer indício de desmoronamento. Para mim, sempre uma imagem de âncora, de um sólido refúgio, uma fonte inesgotável de força e sensatez, uma rocha.

Ainda que não conversássemos abertamente sobre as minhas sensibilidades e fragilidades, talvez justamente por eu vê-lo como uma rocha, sempre pude sentir o porto seguro que era estar ao seu lado.

E eis que um momento, uma adversidade mundana, porém peculiar e, como toda doença, injusta, nos acomete. Meu pai descobriu ter um aneurisma na aorta, diagnosticado há alguns anos, o qual já poderia ter sido solucionado ainda no princípio se não fosse pela “sensível” explicação que um médico deu a ele sobre a cirurgia. A explicação detalhada e cruel de tal médico fez com que ele esperasse cinco anos, até que a situação ficasse insustentável, já com sintomas do seu coração pedindo ajuda, para que levasse outro susto ao ver seus exames e obrigar-se a fazer a cirurgia.

Neste momento, com a data da cirurgia marcada, passei a ver algo para o qual não fui preparada: o medo nos olhos de meu pai.

Acredito que ninguém é preparado para isso. Crescemos com a referência de pais fortes, inabaláveis, sempre prontos para nos acolher em nosso medo, sempre com um espaço na cama nas noites de pesadelo, sempre com as pernas esperando-nos para abraçá-las e escondermo-nos atrás delas diante de uma situação de possível perigo.

Por isso, quando vi o rosto sério de meu pai, o olhar assustado, o mesmo que reconheço em meus olhos quando me vejo no espelho diante de dias ruins, assustei-me. Assustei-me pois sabia que naquele momento eu deveria ser a rocha que ele sempre foi para mim. Eu deveria demonstrar a minha segurança e confiança, mesmo que por dentro estivesse tão ou mais assustada que ele. Mas eu nunca havia sido preparada para isso.

É natural ser a rocha de alguém que até já possa ter sido a sua em algum momento, desde que não seja a sua referência de rocha.

Tornei-me uma rocha a força, em questão de segundos, assim que vi o medo nos olhos dele. Endureci, mas apenas por fora, como a lava que condensa a partir da superfície até seu interior, enquanto esfria lentamente, absorvendo a nova condição climática a qual foi exposta, até que, por fim, torna-se rocha.

Ao longo dos próximos dias, tratei de ir condensando o meu próprio interior, ainda em estado de lava líquida e fervente, queimando de uma forma que jamais imaginei queimar. Tratei de condensar pois sabia que quando o visse no dia da cirurgia, apenas uma casca fina de lava solidificada não bastaria. E, mesmo assim, todo meu processo não bastou, talvez para quem me visse, para quem visse e tocasse a casca de lava solidificada, mas não para mim.

A cada olhada para seu semblante, já envelhecido, e agora afetado pelo medo genuíno, o medo do que farão com seu corpo, o medo de resistir à tamanha agressão, o medo de não retornar para nós, o medo da dor, o medo da vida nova que uma válvula em seu coração irá trazer, uma lágrima tremia no canto do meu olho. Mas não caiu. Não até ele entrar no elevador do meu prédio e pegar o Uber que o esperava, com o endereço do hospital.

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