Dating : Fugas Temáticas

No fim das contas, os detetives decidiram trabalhar. Quem não decidiria? Somente os mais estúpidos e preguiçosos, quem sabe. Ou então, melhor dizendo, nada disso, besteira trabalhar! Estúpido é você acordando sete da manhã pra futucar corpo morto até dizer chega e nunca achar arma.

Você não passa de um energúmeno, é isso, descobri a razão de seu café ser amargo como é e de sua incompetência. Homem, vamos logo com isso, quanto mais cedo terminamos, mais cedo furo tua irmã.

Pois então foram os dois e lá estava o corpo.

Uma mulher, que obviedade. Loira e pálida, talvez não pálida, talvez só perdeu a cor. Quanto tempo que está aqui? Soube que encontraram de madrugada, umas crianças que estavam jogando pedrinhas nas janelas de velhos cornos. Que outra obviedade? Um tiro na testa. Tiro bem dado, diria eu. Tiro bem dado? Que tosquice falar um negócio desses. Já pensou se a mulher tem família? Pior! Já pensou se tem repórter e te ouve soltando frase troncha dessas? Já me pegaram falando e fazendo pior, muito pior. Não é sujeitinho saído de faculdade que acaba com minha carreira não! Convenhamos que precisaria ressuscitar a carreira pra enterrá-la, não é?

Pergunta-se então: quando morre uma mulher, quem se importa? Pergunta-se agora: e uma mulher sem nome? Morta desse jeito, amarrada, de pés descalços, com os olhos arrancados e postos dentro de sua boca. Penso eu que ninguém se importa. Certamente esses dois bêbados não se importam, preferem, de verdade, resenhar e xingar.

Lá se foram os detetives e lá ficou o corpo da mulher, tomando um banho de chuva, esgoto e chorume. Que tristeza.

Cansada, a mulher calçou os sapatos, engoliu seus olhos e ergueu seu corpo. Que motivo teria ela para ficar lá? Ninguém queria saber dela enquanto caminhava, ninguém quis saber dela quando deitada.